
HISTÓRIA DA MÚSICA
Música Popular Brasileira
Samba
O nome samba é, provavelmente, originário da palavra angolana semba, vocábulo que significa, na língua kimbundo, o gesto de "dar uma umbigada" durante o ato de dançar. O primeiro registro da palavra “samba” aparece na Revista O Carapuceiro, de Pernambuco, em 3 de fevereiro de 1838, quando Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama escreve crônica reclamando sobre o que chamou de “samba d’almocreve”, cantado e dançado por negros. O Samba é portanto um gênero musical de raízes africanas, surgido no Brasil.
O samba carioca possivelmente recebeu muita influência de ritmos da Bahia, com a transferência de grande quantidade de escravos para as plantações de café no Estado do Rio de Janeiro. Foi ali que ganhou novos contornos, instrumentos e histórico próprio, de forma tal que o samba moderno, como gênero musical, surgiu no início do século 20 na então capital do Brasil.

Pixinguinha, João da Baiana e Donga, três grandes nomes do samba.
Escola de samba "Deixa Falar"
Fundada em 1928 no Estácio, a Deixa Falar é considerada a primeira escola de samba criada no país.
Na verdade, os bambas do Estácio queriam apenas criar um novo tipo de carnaval e tentar acabar com a violência nos blocos. “Os sambistas do Estácio estavam cansados de apanhar da polícia”, conta Maria Thereza, biógrafa de Ismael Silva.
SOARES, Maria Thereza Mello. São Ismael do Estácio: o sambista que foi rei. Rio de Janeiro, Funarte, 1985.
O início das Escolas
As primeiras agremiações não tinham enredo ou samba definidos. Os mestres de canto puxavam os versos e os foliões repetiam, mostrando ao público duas ou três músicas compostas durante o ano.
A grande novidade da Deixa Falar foi a introdução dos instrumentos de percussão nos desfiles. Isso porque até meados dos anos 20, os sambas eram acompanhados apenas por violões, pandeiros, violinos e até castanholas.
Em entrevista ao jornal Correio da Manhã nos anos 60, Ismael Silva explicou a origem do nome Deixa Falar:
“Naquela época, existia uma grande rivalidade entre os blocos e todos se achavam superiores. O pessoal do Estácio dizia: “Deixa falar”. Eles achavam que os sambistas de lá eram melhores e não admitiam que ninguém pudesse diminuí-los”.
Sobre a origem do termo Escola de Samba, Ismael esclareceu: “Perto da nossa sede ficava a Escola Normal para mulheres. Lá as professoras ensinavam a cozinhar e na Deixa Falar a gente ensinava o samba. Ficou então escola de samba”.
As primeiras músicas de carnaval
Antigamente não era costume os compositores criarem músicas especialmente para o carnaval. A primeira compositora a fazer uma música especialmente para o carnaval foi Chiquinha Gonzaga, que criou a marchinha “Ó Abre Alas” em homenagem ao rancho Rosa de Ouro (veja o verbete dedicado à Chiquinha Gonzaga).
A polêmica de “Pelo Telefone”
"Pelo telefone" é considerado o primeiro samba gravado em 1917. Segundo cronistas e sambistas da época, o samba foi criado coletivamente por vários compositores, entre os quais Sinhô, que reivindicou a autoria de “pelo Telefone” para si próprio. Entretanto, no selo do disco constava como autores somente Donga e Mauro de Almeida, que haviam registrado a música.
A letra de "Pelo Telefone":
“ O chefe da folia / Pelo telefone / Manda avisar / Que com alegria / Não se questione / Para se brincar.
Ai, ai, ai, / Deixa as mágoas para trás / Ó rapaz! /Ai, ai, ai, / Fica triste se és capaz / E verás.
Tomara que tu apanhes / Pra nunca mais fazer isso / Tirar amores dos outros /E depois fazer feitiço...
Ai, a rolinha / Sinhô, Sinhô / Se embaraçou / Sinhô, Sinhô/ É que a avezinha / Sinhô, Sinhô / Nunca sambou / Sinhô, Sinhô.
Porque esse samba, /Sinhô, Sinhô, / É de arrepiar, /Sinhô, Sinhô,/ Põe a perna bamba / Sinhô, Sinhô, / Me faz gozar, / Sinhô, Sinhô.
O ”Peru” me disse/ Se o “Morcego” visse / Eu fazer tolice,
Que eu então saísse / Dessa esquisitice / De disse que não disse.
Ai, ai, ai, / Aí está o canto ideal / Triunfal / Viva o nosso carnaval / Sem rival.
Se quem tira o amor dos outros / Por Deus fosse castigado / O mundo estava vazio / E o inferno só habitado.
Oueres ou não / Sinhô, Sinhô, / Vir pro cordão / Sinhô, Sinhô / Do coração, / Sinhô, Sinhô. / Por este samba”.
Samba enredo: as escolas contam histórias
Samba enredo é o samba utilizado nos desfiles das escolas de samba e como já diz o nome, tem como objetivo cantar o enredo que a escola pretende mostrar durante seu desfile.
A letra é a interpretação literária do enredo. A melodia faz com que os participantes da escola de samba se empolguem, cantem e dancem.
“No começo não havia samba enredo, o mais cantado na quadra era o que valia para o desfile”, informa um mestre da matéria, o portelense Jair de Araujo Costa, o Jair do Cavaquinho. Em 1962, por sinal, ele projetou-se através de um samba de quadra em sua escola, Meu Barracão de Zinco, gravado com sucesso por Jamelão. A pré-história do gênero, no Rio de Janeiro, foi marcada por sambas de Cartola e Carlos Cachaça na Estação Primeira de Mangueira.
Antigos sambas
Jair do Cavaquinho ainda ensina:
“É que nesses primórdios, o samba que as escolas levavam para a avenida tinha apenas a primeira parte, a outra ficava livre para ser versada, improvisada na hora.
[...]
A primeira gravação comercial de um samba-enredo, segundo a Enciclopédia da Música Brasileira (Art Editora) é a do samba Natureza Bela! de autoria de Henrique Mesquita e Felisberto Martins. Foi gravado por Gilberto Alves em 1942, seis anos depois da composição ter sido utilizada como enredo pela escola Unidos da Tijuca”.
O samba enredo moderno
O responsável pela criação do modelo de samba enredo que até hoje é utilizado pelos compositores das escolas de samba foi o sambista Silas de Oliveira. Silas é autor de inúmeros sambas de grande sucesso. Entre eles o belo samba “Aquarela Brasileira”, que até hoje é cantado nas quadras do Império Serrano e por sambistas e blocos como o Monobloco.
Temas de nossa história
Um fato curioso apontado por Tárik de Souza sobre a modernização dos sambas das escolas é a importância de temas sobre o Brasil.
Desde que em 1939, em pleno Estado Novo do ditador Getulio Vargas, a escola Vizinha Faladeira foi desclassificada por causa do enredo Branca de Neve e os Sete Anões. Os temas e personagens da história do país (sempre em clima de exaltação patriótica) obrigaram artífices como Silas & Décio a desdobrarem-se para evitar a pieguice e, sem sair do ufanismo, encaixar letras quilométricas em melodias assobiáveis.
As escolas hoje em dia...
Da década de 80 do século XX em diante, com a invasão das escolas pelas classes média e alta e a transformação do desfile em show bizz cada vez mais opulento, o samba enredo também mudou. Sua velocidade foi sendo aumentada para permitir que o gigantismo das escolas não atrapalhasse a rígida cronometragem da comissão julgadora.
CDs dos sambas-enredo
As enormes vendagens dos discos com os sambas-enredos vencedores de cada escola motivaram disputas acirradas entre compositores, com torcidas subsidiadas e rateio do bolo por um número cada vez maior de parceiros. Depois de dominar o período carnavalesco tirando espaço das marchinhas e dos próprios sambas de carnaval, o samba enredo sofre, a partir de meados dos anos 90, um processo de exaustão da fórmula com discos em queda de vendagem e o alcance de suas músicas cada vez mais restrito aos dias de folia.
“Aquarela Brasileira”
(samba enredo de autoria de Silas de Oliveira, para a escola Império Serrano, no desfile de 1964)
Vejam esta maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista num sonho genial
Escolheu pra este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela do Brasil em forma de aquarela
Passeando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais
No Pará a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó.
Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais
Estava no Ceará, terra de Irapuã
De Iracema e Tupa .
Fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na Bahia
Bahia de Castro Alves,do acarajé
Das noites de magia do cadomblé
Depois de atravessar as matas do Ipu
Assisti em Pernambuco
A festa do frevo e do maracatu.
Brasília tem o seu destaque
Na arte, na Beleza e arquitetura
Feitiço de garoa pela serra
São Paulo engrandece a nossa terra
Do leste por todo centro-oeste
Tudo é belo e tem lindo matiz
O Rio do samba e das batucadas
Dos malandros e mulatas
De requebros febris
Brasil,
Essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas
De colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emolduram em aquarela o meu Brasil.
Lá...lá...lá...
Lá...lá...lá...lá...lá...

O grande sambista Ismael Silva em 1975


Ismael Silva com seu violão na lendária Festa da Penha, nos anos 1950.
Na foto Armando Marçal, Paulo Barcellos e Alcebíades Barcellos (o Bide), fundadores da Deixa Falar, posam no meio das pastoras.



Selo do primeiro disco de samba
Na primeira foto, Sinhô e na foto da direita, Donga
PARA SABER MAIS

Samba de Roda do Recôncavo Baiano
Descrição do "Samba de Roda", patrimônio da Humanidade.
Dona Ivone Lara, a grande dama do samba
Site oficial com informações sobre a vida e a obra da grande sambista.
Nelson cavaquinho
Verbete com informações sobre a vida e a obra da grande sambista.
Clementina de Jesus
Texto com informações sobre a vida e a obra da grande sambista.

PARA VER E OUVIR
Pelo Telefone
gravação original
Jura
samba de Sinhô, interpretado pela cantora Zélia Duncan
Músicas famosas de Dona Ivone Lara
A grande dama do samba canta ao lado de Paula Lima
Aquarela Brasileira
Samba enredo do Império Serrano, composto por Silas de Oliveira para o carnaval de 1964